Não há como negar que a infertilidade é uma experiência que provoca muitas emoções.
Muitas pessoas iniciam tratamentos de FIV após se depararem com vários contratempos, por isso, é normal sentir algum desgaste logo no início do processo.
Para além disso, muitas vezes, a FIV parece uma última oportunidade, o que aumenta a pressão.
Juntamente com as esperas, consultas constantes, a montanha-russa de emoções e os altos e baixos de cada ciclo, é normal que as pessoas se sintam ansiosas, stressadas e desesperadas.
O pior é que não há garantias de nada, o que pode ser muito doloroso quando se trata de algo que se quer tanto.
Quando começa um tratamento de FIV, tem de estar ciente de que este processo pode afetar a sua saúde mental e está tudo bem com isso.
Neste Dia Internacional da Saúde Mental, vamos falar com a Dra. Joana Mesquita Guimarães, Diretora Clínica da clínica Procriar, sobre o impacto da infertilidade e da FIV na sua saúde mental e o que pode fazer para se cuidar ao longo do processo.
A FIV não afeta apenas o seu corpo, como também a sua mente e emoções.
Pode ser um processo exigente pelos seguintes motivos:
A FIV costuma provocar grandes esperanças.
Cada ciclo representa um passo mais próximo do seu sonho, mas quando as coisas não acontecem como esperado, pode ser profundamente desapontante.
Os altos e baixos podem criar uma sensação de desgaste emocional.
A Dra. Guimarães explica:
“Ao longo da FIV, há vários momentos em que as coisas podem não correr como esperado. Se o seu corpo não reagir à medicação como esperado, podemos ter de cancelar um ciclo inteiro. Por vezes, são recolhidos menos óvulos ou com qualidade inferior do que era de esperar. Após a fertilização, nem todos os embriões se desenvolvem em blastocistos, e, mesmo desenvolvendo, podem revelar-se geneticamente anormais num rastreio PGT-A. Estas incertezas podem contribuir para a pressão emocional durante o processo.”
A FIV pode criar a sensação de que várias coisas estão fora do seu controlo.
Desde a forma como o seu corpo reage aos tratamentos hormonais, se os seus ovários produzem óvulos suficientes, até à qualidade dos mesmos… há muitas variáveis.
Mesmo se tudo parecer estar a correr bem, a fertilização ou o desenvolvimento dos embriões podem não ocorrer como esperado.
Para além disso, as esperas: esperar para verificar se os embriões atingem a fase de blastocistos, se são geneticamente normais e, por último, se a transferência do embrião gerou uma gravidez.
Todas estas incertezas podem criar ansiedade, stress e sensação de impotência, já que tantos aspetos do processo estão fora do seu controlo.
A medicação utilizada na FIV pode ter alguns efeitos secundários, como inchaço abdominal, dores de cabeça e fadiga.
Normalmente, estes sintomas resultam de mudanças hormonais que ocorrem no seu corpo durante o tratamento.
Hormonas como estrogénio e progesterona, utilizadas para estimular a produção de óvulos ou para preparar o útero para a transferência de embriões, podem afetar significativamente o seu humor.
É completamente normal sentir-se mais emocional, ansiosa ou até triste durante este período.
Pode sentir alterações bruscas de humor, irritabilidade acrescida, tristeza ou frustração.
Tudo isto contribui para o stress durante o processo de FIV.
Estas mudanças emocionais são uma resposta natural à medicação e à experiência intensa de passar por um tratamento de fertilidade.
A FIV pode ser cara em tempo e dinheiro, o que contribui para o stress.
Não é fácil investir tanto dinheiro, tempo e energia em algo que não vem com garantias.
O lado financeiro, em especial, pode ser preocupante, já que o sucesso não é garantido, mesmo depois de tudo.
O resultado incerto, juntamente com os custos elevados, pode tornar o processo ainda mais frustrante e emocionalmente desgastante.
A sensação de isolamento é comum durante a FIV, principalmente quando ninguém à sua volta entende a pressão emocional pela qual está a passar.
Os seus amigos podem tentar animá-la dizendo coisas como “vais ver que a FIV é uma coisa boa”, mas, quando tem de lidar com o stress, incertezas e medo do desconhecido, a FIV pode parecer tudo menos uma coisa boa.
Receber a notícia de que outras pessoas próximas de si vão ter filhos também pode ser difícil.
É natural que se sinta feliz por eles, mas também pode desencadear emoções negativas devido à sua situação.
Esta contradição de emoções pode causar alguma tensão em algumas relações, principalmente se tem dificuldade em comunicar com o seu parceiro ou se sentem emoções diferentes.
A FIV é difícil para ambas as partes do casal e não apenas para quem se submete ao tratamento.
É comum os parceiros sentirem um misto de emoções.
Apesar de quererem prestar apoio, também têm de lidar com o seu próprio stress e preocupações.
Não é fácil sentir-se deixado de parte, devido ao foco maioritário no corpo da mulher, o que leva à frustração e à sensação de impotência.
Esta situação pode dificultar a comunicação, principalmente se cada parceiro lidar com o processo de forma diferente.
É importante que falem abertamente e que se apoiem mutuamente ao longo do tratamento, tanto nos momentos bons como nos maus.
Quer seja uma pessoa individual ou um casal, se precisar de um dador durante a FIV, é importante que esteja ciente dos desafios emocionais que esta decisão pode trazer.
Muitas pessoas sentem algo parecido com luto quando percebem que terão de seguir um plano diferente para começar uma família.
É completamente normal fazer luto pela perda dessa conexão genética.
Falar abertamente com alguém em quem confia, um membro da família, um psicólogo e encontrar comunidades de apoio online, podem ser boas estratégias para superar este tipo de emoções e abraçar este caminho diferente para a parentalidade.
Cuidar da sua saúde mental antes de iniciar a FIV é tão importante quanto preparar o seu corpo.
“A FIV pode ser um processo muito emocional, por isso, adotar algumas estratégias pode fazer toda a diferença”, referiu a Dra. Guimarães.
“Comece por entender o que esperar, o conhecimento pode reduzir a ansiedade. Estabeleça uma rede de apoio forte, seja com amizades, família ou um grupo de apoio. Se está a passar pelo tratamento com um parceiro, mantenha a comunicação aberta e honesta. Por último, considere conversar com um psicólogo especializado em fertilidade e não se esqueça de dar prioridade a atividades de autocuidado relaxantes e energizantes.”
Confira aqui algumas estratégias para minimizar o stress.
Saber o que esperar pode tornar a FIV menos assustadora.
Fale com o seu médico, faça-lhe perguntas e procure informação em fontes de confiança, para acalmar a sua ansiedade.
Falar com alguém que já passou pelo mesmo também pode ser uma grande ajuda, pois pode partilhar experiências consigo e dar-lhe conselhos para que o seu processo pareça um pouco menos assustador.
É bom ter esperança, mas também é importante que se prepare para a realidade de que nem todos os ciclos terão sucesso.
Na verdade, muitas vezes são necessárias várias tentativas para alcançar uma gravidez bem-sucedida.
Segundo a Human Fertilisation and Embryology Authority (HFEA), cerca de 75% dos ciclos de FIV não resultam num nado-vivo na primeira tentativa.
No entanto, muitas vezes, a FIV é como um jogo de sorte: quantos mais ciclos fizer, melhores são as chances de sucesso.
Ser realista pode ajudar a gerir as expectativas e permanecer positiva ao longo do processo.
É muito importante rodear-se de pessoas que a entendam e apoiem, mas muitas mulheres sentem-se envergonhadas pela FIV e têm medo de partilhar aquilo por que estão a passar.
É importante quebrar esse silêncio.
Amigos e família podem dar-lhe o apoio necessário e eliminar a sensação de solidão.
Partilhar as suas experiências ajuda os outros a entendê-la e a oferecer-lhe a ajuda necessária.
Também pode encontrar algum conforto em fóruns online onde outras pessoas que já passaram pelo mesmo lhe podem dar conselhos, motivação e uma sensação de comunidade.
Se está a passar por um tratamento de FIV em casal, é essencial manter uma comunicação aberta.
Conversar sobre as suas emoções e medos regularmente pode ajudar a manter uma relação de apoio mútuo e a manterem-se conectados.
Lembre-se, como parceiros, é possível que não entendam completamente o que o outro está a experienciar fisica ou emocionalmente.
Carinho e paciência são a chave.
Também é comum um dos parceiros sentir culpa, seja devido a problemas com o sémen (para os homens), ou sentir que o corpo não está à altura (para as mulheres).
Serem compreensivos e abertos um com o outro pode contribuir para que nenhum sofra em silêncio.
Um psicólogo especializado em fertilidade pode dar-lhe ferramentas para gerir as suas emoções.
O apoio profissional pode fazer toda a diferença na forma como lida com os altos e baixos da FIV.
Arranje tempo para atividades relaxantes e energizantes.
Sejam elas exercício físico, meditação, ou passatempos, cuidar do seu bem-estar é essencial.
No decorrer do processo de FIV, continue a focar-se na sua saúde mental com estas estratégias:
Práticas como respirar fundo ou ioga podem ser ferramentas muito úteis para reduzir a ansiedade e permanecer calma, principalmente nos momentos mais stressantes.
Exercícios de respiração, como a técnica de 4-7-8, podem funcionar muito bem.
Funciona assim: inspire pelo nariz durante 4 segundos, prenda a respiração durante 7 segundos e expire completamente, pela boca, durante 8 segundos.
Esta técnica acalma o sistema nervoso e pode ser feita em qualquer lugar e qualquer altura em que se sinta nervosa.
O ioga também pode ajudar a aliviar a tensão física e a criar uma sensação de calma, devido à combinação dos movimentos e técnicas de respiração.
Incorporadas na rotina diária, estas práticas podem fazer toda a diferença na forma como gere o stress durante o tratamento.
A FIV pode tornar-se mais frustrante se pensar no processo todo de uma só vez.
É fácil perder-se no meio de tanta coisa a acontecer, se se preocupar com todos os passos do processo.
Tente focar-se apenas no passo seguinte para gerir melhor o processo.
Organize-se em tarefas mais pequenas, como por exemplo, ir à consulta de hoje, ou focar-se na próxima injeção.
Ao concentrar-se apenas no que vai acontecer a seguir, irá reduzir a ansiedade e o processo pode ficar menos assustador.
Esta abordagem ajuda a que fique mais presente e calma ao longo de todo o processo.
É normal sentir-se triste, zangada ou frustrada durante a FIV.
Estas emoções são naturais e é importante reconhecê-las em vez de as ignorar.
É muito importante praticar autocompaixão, neste caso.
Trate-se com o mesmo carinho com que trataria uma amiga na sua situação.
A autocompaixão envolve que seja meiga consigo própria nos momentos mais complicados e que reconheça que não faz mal passar por momentos difíceis.
Se precisar de apoio, converse com quem a rodeia, ou utilize recursos como os de Kristen Neff sobre autocompaixão, em self-compassion.org.
A Procriar está na vanguarda da medicina da reprodução, aliando as mais avançadas tecnologias com cuidados focados nos pacientes. Como clínica de referência em tratamentos de PMA em Portugal, e dispondo de um vasto banco de óvulos e esperma com perfis detalhados de dadores, a Procriar dedica-se a fornecer soluções inclusivas e acessíveis para todos, ajudando indivíduos e casais a realizar os seus sonhos de parentalidade.
Se o processo se tornar demasiado stressante, pode fazer uma pausa.
A FIV é exigente emocional e fisicamente e, após cada ciclo, é natural que se sinta exausta e desanimada.
Reservar um tempo para se afastar, processar as suas emoções e recompor-se pode ser benéfico.
Esta pausa permite-lhe recarregar energias, ganhar uma perspetiva diferente e voltar mais forte para os passos seguintes.
Lembre-se, não há pressa.
Cuidar do seu bem-estar mental e emocional é tão importante como os aspetos físicos da FIV.
A FIV é stressante para ambas as partes do casal, por isso, é importante reservar algum tempo um para o outro e manter a comunicação aberta.
Saírem juntos regularmente, ou até simplesmente verificar se o outro está bem, pode melhorar a conexão do casal e relembrar que a relação é mais do que apenas tratamentos de fertilidade.
Nutrir a relação para além do processo de fertilidade é muito importante, seja a aproveitar uma refeição juntos, a dar um passeio ou a conversar sobre outros temas não relacionados com a FIV.
Estes momentos de conexão podem fortalecer os laços da relação e promover o apoio mútuo.
Identifique a raiz do seu stress e tente minimizá-la.
Isto pode traduzir-se em afastar-se das redes sociais, se receber muita informação nova for frustrante para si, ou estabelecer limites em conversas que sejam desconfortáveis para si neste momento.
Se certos temas ou pessoas representam um gatilho para a sua ansiedade, não há mal em mudar o tópico da conversa ou fazer uma pausa de tais interações.
Ter noção do que provoca o seu stress e agir proativamente para o gerir pode fazer toda a diferença em como se sente durante o tratamento.
Reconheça e celebre as pequenas vitórias ao longo do processo.
A FIV pode ser um processo longo e difícil, por isso, é importante que as pequenas coisas lhe tragam alguma alegria.
Nas comunidades de língua inglesa, até há um termo utilizado por quem passa por este processo, para o período após a transferência de embriões: PUPO (Pregnant Until Proven Otherwise), que significa algo como “grávida até prova em contrário”.
É uma forma de reconhecer e abraçar a possibilidade de estar grávida, mesmo sem confirmação.
Celebrar estes momentos pode levantar-lhe o ânimo e relembrá-la de que vale a pena celebrar cada passinho, seja por estar “grávida até prova em contrário”, ou por ter completado um ciclo.
As clínicas de fertilidade como a Procriar têm um papel fundamental no apoio à saúde mental durante o tratamento de FIV.
A Dra. Guimarães explica:
“Na nossa clínica, sabemos que o tratamento de fertilidade não é apenas sobre o aspeto médico, mas também sobre o seu bem-estar geral. Por isso, focamo-nos em tratar de si de uma forma holística: oferecemos-lhe apoio médico, mas também psicológico, ao longo de todo o processo. Adaptamos os planos de tratamento a cada paciente, para que não sinta tanto stress. Estamos aqui para responder a qualquer pergunta e incentivar à informação, o que contribui para que se sinta em controlo. E não subestime o poder do autocuidado. Manter uma vida ativa, alimentar-se bem e arranjar tempo para relaxar são atividades vitais durante este processo. Estamos consigo em cada etapa do processo e apoiamos tanto o seu corpo como a sua mente.”
Durante o tratamento, a sua saúde mental é tão importante como a física.
Para passar por este processo com mais força e resiliência, tem de cuidar do seu bem-estar emocional e procurar ajuda sempre que precisar.
Se quer dar apoio a alguém que está a passar pela FIV, pode ajudar das seguintes formas:
O processo de FIV é difícil, mas também repleto de esperança.
Foque-se na sua saúde mental e procure apoio para ultrapassar o processo com maior resiliência.
Lembre-se, não está sozinha.
Os especialistas de fertilidade e entes queridos que a rodeiam podem dar-lhe a força de que precisa para enfrentar os desafios da FIV.
Neste Dia Internacional da Saúde Mental, vamos destacar a importância de cuidar da saúde mental durante a FIV.
Quer esteja no início ou numa etapa mais avançada do processo, é bom pedir ajuda e cuidar da sua saúde mental.
“Cuidar da sua saúde mental é tão importante com os aspetos físicos da FIV. Se cuidar de ambos, tem mais probabilidade de terminar este processo com sucesso.”
— Conclui a Dra.Guimarães.
